Amizade tem preço?

Sendo a amizade um sentimento involuntário, como todos os outros, seria impossível caracterizá-la numa relação comercial. As pessoas sequer fazem amigos, elas os reconhecem ao longo da vida. Além disso, esse sentimento de afeto inestimável não seria possível sem virtudes, se assim fosse a relação seria de bajulação, a qual, nem de longe, retrata a verdadeira amizade.

Essa, por sinal, cria vínculos maiores que o parentesco, vínculos esses que não podem ser sequer comparados a um contrato frágil de prestação de serviços, pois não são facilmente quebrados. E, ainda que fossem, causaria para ambas as partes muito mais prejuízo do que uma mera multa rescisória. Causaria tristeza e decepção.

As maiores provas de que amizade não tem preço são as tentativas falhas de subordinação de um amigo. Que o diga o ex-presidente da república, Fernando Collor de Melo, denunciado pelo próprio irmão, Pedro Collor, a quem deveria ter dedicado verdadeira amizade desde cedo se quisesse ter a chance de concluir o mandato. É sórdido preferir dinheiro, honrarias, prestígio no lugar da amizade e isso acarreta conseqüências que são, no mínimo, indesejáveis.

É erro perigoso, contudo, imaginar que na amizade as portas estão abertas a todos os abusos. Há obrigações nessa relação e uma delas é fazer advertências e até repreensões aos amigos. A amizade deve servir para que as pessoas cresçam no bem e não para a cumplicidade nos vícios.

Se a amizade estivesse à venda, seria estabelecida uma relação caracterizada por empregado e empregador. Além disso, não se perderiam amigos, mas clientes. E todos podem suportar, embora não sem medo, que tenham perdido todos os seus clientes, mas enlouqueceriam se perdessem todos os seus amigos.

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