Na falta de coragem para abrir a boca e falar mal dos políticos que andam com as meias “recheadas”, preferiu – e é mesmo mais confortável, visto que ele próprio já não pode se defender – escrachar um dos mais importantes ícones da cultura brasileira: Cazuza.
Logo no início do artigo, chegou à conclusão de que as pessoas estão cultivando ídolos errados! Ora, cultivá-los já é errado! Não há ninguém digno de ser idolatrado e rigorosamente copiado, visto que somos todos seres humanos defectivos. As referências que se têm de artistas devem ser mínimas para que sejam saudáveis. E fazer com que as crianças e adolescentes tenham essa percepção é dever dos pais.
Durante todo seu texto foi infeliz ao analisar o artista sob um ponto de vista atual, sem levar em consideração o contexto histórico no qual ele nasceu e cresceu. Agenor de Miranda Araújo Neto nasceu em 1958 e despontou como artista em 1980, quando a ditadura militar já sucumbia e os ideais de liberdade eram proclamados a todo instante.
O filme (Cazuza – O tempo não pára) apresenta realmente o rapaz mimado e transgressor que Cazuza foi. Vindo de uma família de posses, pôde desfrutar de uma vida burguesa e isso não é pecado, além do mais, ele fez questão de dividir tudo que tinha com todos que estavam por perto. A mãe, que muitas vezes já se declarou culpada por tantos mimos, era uma moça bem criada que se frustrou ao saber que Cazuza seria seu único filho e por isso o amou desmedidamente, ao seu modo, até o último minuto. O pai, que não foi ausente, embora não tenha tido tanta intimidade e proximidade com o filho, soube amá-lo do jeito que ele era e tentou por muitas vezes dominar o instinto rebelde que Cazuza possuía, entretanto nunca conseguiu. Cazuza fez sempre o que quis, foi feliz à sua maneira.
Não foram certamente os melhores pais do mundo, mas foram os únicos que possibilitaram a existência desse grande artista. Grande artista, sim, e isso é indiscutível. Cazuza não se tornou um artista porque o pai era dono de uma grande empresa de música, mas nasceu assim e, senão pelo pai, teria conseguido gravadoras de sobra pra gravar seus sucessos. Ele poderia ter que esperar alguns meses, mas as oportunidades viriam, como vieram depois que ele abandonou a Som Livre por causa desse tipo de comentário que tanto o incomodava.
“A única diferença entre Cazuza e Fernandinho Beira-mar é que um nasceu na Zona Sul e outro não”. Concordar com uma comparação absurda como essa é, no mínimo, inadmissível e assustador. Estamos falando das mesmas pessoas? Então, traga-me os poemas de Fernandinho Beira-mar e apresente-me a lista de homicídios desse tal de Cazuza, o perigoso! O próprio poeta escreveu frases como “Eu não posso causar mal nenhum, a não ser a mim mesmo” e vivia afirmando: “Não quero nem que um cachorro na rua me siga, não sou exemplo pra ninguém!”. Não é possível que alguém que conheça a obra e a vida dele chegue a essa conclusão errônea. Não vi, até hoje, uma só criatura que o tenha conhecido e o ache uma má pessoa. Essas comparações são frutos de mentes preconceituosas e atrasadas, que não têm flexibilidade para enxergar, por trás dos muitos erros, uma criança mimada e insegura.
Morreu precoce e claramente por culpa da vida boêmia e desregrada que vivia. O filme mostra a dor e a luta que o artista –e seus familiares- viveu quando descobriu ser soropositivo, e deixa claro que esse é o ônus que se paga quando se vive sempre “no limite”. Por não ter livre indicação, o longa-metragem não é capaz de fazer alguém acreditar que viver em bacanais, em meio às drogas é uma boa opção. Apesar de ter sido a opção de vida do poeta.
Não. Cazuza não teria morrido do mesmo jeito se seus pais tivessem dito alguns “não” a mais, mas também não teria composto do mesmo jeito, não teria chocado o Brasil do mesmo jeito, não teria sido quem ele foi. E ser quem ele era não era fácil, como disse Lucinha Araújo (sua mãe), “viver de acordo com a minoria é muito mais difícil”, mas viver com a maioria só pra ser aceito é pura covardia. Aposto que Cazuza sempre se sentiu amado por seus pais e reconheceu neles seus melhores amigos.
Pais, faz-se mister lembrá-los: amem seus filhos! Do jeito que eles forem, faça o melhor por eles e eu garanto que eles serão felizes e reconhecerão em vocês não apenas pais e mães, mas guerreiros incansáveis nessa luta sempre tão agitada e difícil que é a vida!"
Camila Cota
Estudante aos 17 anos.
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