Do sentimento

       


         Chegou meio que sem avisar, ficou por aqui mesmo. De mansinho, conquistou um lugar que ainda não havia sido explorado e agora faz-se proprietário desse pedacinho de terra. Enquanto se faz presente, me deixa boba. Completamente fora de mim. Acelera o 'tun-tun-tun' do coração e o faz tão alto que, aos 97 anos, uma senhora do outro lado da rua consegue escutá-lo, ao menos é o que parece. Por isso, sinto-me envergonhada. Não, não tenho vergonha do que sinto, mas falar sobre isso é embaraçoso, quase que um TABU, sabe como é?
         Interessante, sempre chega como a primeira vez. Há tanto espaço ainda deserto aqui dentro que não conseguem chegar duas vezes ao mesmo lugar, nunca. Não que não seja igualmente (tão) profundo. É simplesmente diferente e, ao mesmo tempo, assustador. Faz com que eu me sinta insegura, mas cheia de certezas. Alegre, embora trema de medo.  Plenamente realizada e um pouco confusa. É uma questão simplesmente complexa.
         Dia desses pensei com meus botões, como faz pra decidir o futuro disso tudo? Eu não pedi, mas isso existe e está aqui. Quem mandou? Alguém pode me dar explicações? É misterioso o curso que tomou, a fonte da qual nasceu e todo o resto. Ninguém pode me dizer nada porque sentimentos são inexplicáveis e, mais, incontroláveis.
         Por isso, rendo-me. Dispo-me das armaduras - tão pesadas - que por muito tempo carreguei sobre mim mesma e corro literalmente pro abraço. Existe o risco de me machucar, eu sei, mas, um dia me disseram que viver já é um grande risco. Aliás, isso de viver foi outra coisa que me impuseram. Enfim, é como diz aquele grande poeta: "É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar pra pensar, na verdade não há..."

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